A matriz energética está mudando, o que já existe no Brasil?
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A matriz energética está mudando, o que já existe no Brasil?
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Com os desafios impostos pelas mudanças climáticas e o alto custo do petróleo e seus derivados, a sociedade brasileira se vê cada vez mais diante da necessidade de buscar fontes de energia alternativas e renováveis.
A energia solar e eólica surgiram como alternativa em todo o mundo, depois que a tecnologia atingiu um patamar em que a geração de eletricidade a partir dessas fontes renováveis de energia se tornou possível em escala para atender à demanda da população.
A geração de energia eólica está crescendo, mas a energia solar está ganhando ainda mais força em usinas de energia e opções domésticas. De acordo com o relatório New Energy Outlook 2016, produzido pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF), nos próximos 25 anos veremos uma mudança na matriz energética do país, de uma predominância de usinas hidrelétricas para fontes alternativas, como energia solar e eólica. De acordo com a diretoria da América Latina da BNEF, as instalações de energia eólica no Brasil aumentarão de 8 gigawatts em 2015 para 47 gigawatts em 2040.
Essa projeção é ainda mais importante quando sabemos que a demanda por energia elétrica no país deve triplicar até 2050, segundo previsão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), atingindo um consumo similar ao de toda a União Europeia. Se considerarmos as secas que têm atingido o Brasil em decorrência das mudanças climáticas, podemos concluir que a dependência da energia hidrelétrica está colocando o Brasil em uma situação frágil.
A matriz energética precisa se diversificar, ressalta o professor Ennio Peres da Silva, do Instituto de Física da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), especialista em fontes renováveis de energia.
As opções tecnológicas estão atualmente impulsionando esse processo de diversificação. As termelétricas a gás representam essa opção, já respondendo por 9% da matriz energética brasileira. As usinas pioneiras a gás natural estão em operação nos estados do Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná. Elas usam um sistema de ciclo combinado com equipamentos de alto desempenho, obtendo 60% da energia a partir do gás. A geração térmica é eficiente, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa. Esse mesmo sistema, usado na Alemanha, atingiu 61,5% de eficiência, quebrando o recorde mundial de produção de eletricidade. A economia em termos de redução de dióxido de carbono (CO2) por ano foi de 2,5 milhões de toneladas, o que equivale à poluição produzida por 1,25 milhão de carros por ano.
A fonte alternativa mais promissora no Brasil é a energia solar. Ela também tem sido cada vez mais instalada em residências. Painéis fotovoltaicos podem ser instalados nos telhados das casas, o que é chamado de energia distribuída. Estima-se que até 2040 o Brasil terá 97 gigawatts desses sistemas solares, instalados em todo o país, em aproximadamente 9,5 milhões de residências. As usinas solares em instalações centralizadas devem gerar 28 gigawatts.
Já é possível gerar energia solar em casa, armazenando o excedente em baterias ou vendendo para concessionárias de energia para ganhar créditos na conta de energia. A expectativa é que essa energia solar distribuída revolucione a geração de energia, tornando o Brasil um dos maiores mercados do mundo nesse quesito.
Energia solar e eólica mudam o conceito de geração e consumo de energia
“É outra cultura, outro conceito, outra experiência de aprendizado, outro sistema. Outra forma de pensar Geração, Distribuição e Consumo”, diz André Trigueiro.
André Trigueiro, conhecido jornalista especializado em questões ambientais, é pós-graduado em Gestão Ambiental pela UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Famoso pelo programa Cidades e Soluções, na Globo News, do qual é editor-chefe, ele opina sobre as perspectivas da energia solar no Brasil, após ter participado como observador da mídia brasileira na reunião da COP-21, do Acordo de Paris, em 2015, e ter visitado a China para pesquisar os esforços chineses para gerar energia alternativa.
Segundo Trigueiro, o Brasil está atrasado na adoção da energia solar fotovoltaica. Assim como na energia eólica, hoje há muitos interessados em energia solar, com centenas de projetos, mas o Brasil não produz localmente os equipamentos para atender a essa demanda crescente. A situação é de dependência de importações para obter os componentes do sistema fotovoltaico, como painéis solares e inversores grid-tie, entre outros, que ainda não são desenvolvidos no país por falta de apoio de políticas públicas.
O Brasil tem especialistas e técnicos em instituições brasileiras, como a UFSC, UFPE, UFRGS, USP e UFPA, que, com apoio e incentivos, aumentariam a produção industrial, com inovação semelhante ao desenvolvimento da exploração do etanol como combustível, que criou o motor Flex. Há apenas apoio do BNDES, dentro do plano de nacionalização progressiva, com financiamento a juros competitivos.
Para André Trigueiro, o maior incentivo para o uso da energia solar fotovoltaica no Brasil é o aumento constante das tarifas de energia, que impactam diretamente no orçamento das empresas e residências. Considerando a área disponível para captação de energia solar e o nível de luz solar recebido, é possível ter uma situação financeiramente favorável para a energia solar. O custo do equipamento é amortizado ao longo do tempo e atualmente de forma muito rápida.
Em um país tropical como o Brasil, as políticas públicas devem aumentar a participação da energia solar, criando subsídios e incentivos fiscais, até que essa adoção possa ser mantida de forma sustentável e a tendência é que o setor cresça significativamente. Claro, isso requer visão estratégica.
O Brasil precisa se preparar para o crescimento do uso de energia fotovoltaica em nossa matriz energética. André Trigueiro recomenda a formação de engenheiros eletricistas para equipar as redes elétricas para acomodar uma parcela maior de fontes de energia solar e eólica. Essas são fontes intermitentes, mas em muitos países do mundo são amplamente utilizadas sem problemas.
No Nordeste brasileiro, energia renovável ganha espaço e investimentos
Com apoio do Governo do Maranhão, a empresa Omega Energia implantou o parque eólico do estado. Ele agora está sendo expandido, gerando mais 108 MW, além dos 220 que já estão em operação. O complexo está localizado entre os municípios de Paulino Neves e Barreirinhas. Só na expansão estão sendo investidos R$ 500 milhões.
O investimento total foi de R$ 1,5 bilhão de reais, e o complexo eólico conta com 96 aerogeradores, com capacidade de 220 megawatts. Outros dois complexos eólicos serão construídos em breve no estado.
Mas esse tipo de projeto não acontece só no Maranhão. Ao viajar pelo interior e litoral do Nordeste, é possível ver dezenas de parques eólicos e solares. No total, serão investidos R$ 30 bilhões em energia eólica até o fim da década, o que colocará o Brasil entre os dez países com maior uso de energia eólica no mundo. Os ventos que movimentam os parques eólicos no Nordeste são contínuos e intensos, o que significa que eles operam boa parte do tempo com um fator de capacidade superior a 60%, o dobro da média mundial. No Ceará, por exemplo, a energia eólica já representa um terço da rede elétrica do estado e permite que a energia não utilizada seja exportada para outros estados.
Segundo o Center for Strategies in Natural Resources & Energy – Cerne, o Ceará produz 2,67 GW, o que o torna o estado brasileiro com a terceira maior capacidade energética, considerando seus parques em operação e em construção. Os primeiros colocados na produção de energia eólica são a Bahia, com 5,39 GW e o Rio Grande do Norte, com 4,93 GW.
Em 2017, a geração eólica foi responsável por 12,6% da energia demandada pelo Sistema Interligado Nacional. No Nordeste, esse percentual chegou a 64,2% da energia consumida na região. O suprimento de energia, que até 2009 era fornecido exclusivamente por fontes hidrelétricas de usinas na Bacia do Rio São Francisco, foi substituído principalmente pela energia eólica em uma região onde os ventos são constantes e excepcionais, resultando em uma capacidade de geração considerada uma das melhores do mundo.
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