Carro a diesel, uma opção para fugir do preço da gasolina?

Em um momento de crise causado pelas políticas de preços da Petrobras, o diesel parece ser a opção de combustível mais barata. Mas será que ele é uma alternativa viável para carros de passeio? Veja os prós e contras.

Na semana de 8 de junho, o governo federal manteve a posição de adotar subsídios apenas para o óleo diesel, excluindo a possibilidade de a medida ser estendida a outros combustíveis, como gasolina, etanol e biodiesel.

Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, os subsídios serão limitados ao óleo diesel, após a greve dos caminhoneiros. Ele afirmou ainda que uma consulta pública está sendo preparada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), que deve obter informações para mudanças na periodicidade dos reajustes dos preços dos combustíveis. Subsídios para gasolina e outros combustíveis não estão sendo discutidos.

Segundo a agência, mesmo com a concessão de subsídios para o preço do diesel, a situação fiscal do país melhorou em relação ao que era esperado há alguns meses. O governo, segundo Mansueto Almeida, tem instrumentos para bloquear mais despesas se necessário e garantir o cumprimento da meta fiscal deste ano, cujo limite foi estabelecido em R$ 159 bilhões.

Imagem: Getty

O preço do diesel após a greve dos caminhoneiros

O preço médio do diesel, após o que foi conquistado pela greve dos caminhoneiros, agora tem desconto de R$ 0,34. O preço na bomba na primeira semana de junho foi, em média, de R$ 3,482 por litro, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Na semana anterior, última semana de maio, o preço foi de R$ 3,828.

Anteriormente, de 27 de maio a 2 de junho, quando ainda não havia acordo entre o governo federal e os caminhoneiros, o diesel custava R$ 3,828. Ao fechar acordo com os caminhoneiros, o governo federal previu redução de R$ 0,46 no preço do litro.

O preço médio foi obtido pela ANP por meio de pesquisa em 2.855 postos de combustíveis espalhados pelo Brasil. O menor preço foi encontrado na Região Sul, de R$ 3,312, e o maior, na Região Centro-Oeste, de R$ 3,695. No mesmo período, o preço médio do litro da gasolina subiu para R$ 4,603 e o do etanol aumentou 0,98%, passando de R$ 2,953 para R$ 2,982.

Em junho, o preço do barril de petróleo é US$ 75. Se o preço do barril no mercado mundial aumentar, os preços atuais dos combustíveis brasileiros provavelmente aumentarão ainda mais. Você deve estar se perguntando: ter um veículo a diesel seria uma boa solução para lidar com o aumento dos preços dos combustíveis no Brasil?

No entanto, há alguns fatores a serem considerados nessa opção, como preço, legislação brasileira, vantagens e desvantagens dos veículos a diesel.

1. Carros a diesel são mais caros

Não encontramos carros a diesel com muita frequência no mercado brasileiro, como costuma acontecer em países europeus, porque a legislação cria barreiras para que isso aconteça. Mas esse tipo de veículo é comum entre SUVs, picapes e alguns crossovers.

Carros a diesel consomem menos combustível, são mais robustos e têm melhor desempenho, mas são mais caros que seus equivalentes com motor flex. O preço final também é afetado por maiores custos de produção, porque os componentes precisam ser mais robustos e ter mais tecnologia. Seus custos de manutenção também são maiores.

Um carro a diesel geralmente oferece melhor desempenho, menor consumo de combustível e maior robustez. Por outro lado, é muito mais caro do que uma versão equivalente com motor flex e os custos também são maiores. A diferença de preço é motivada por vários motivos, incluindo a margem de lucro dos fabricantes e a alta carga tributária no país, que afeta os preços.

A demanda por picapes a diesel tem sido maior do que por outros modelos, o que levou os fabricantes a aumentar os preços e as margens de lucro. A demanda dos consumidores, que estão dispostos a pagar mais por um motor a diesel, tem um efeito de mercado significativo no aumento dos preços. No segmento de usados ​​e seminovos, os modelos a diesel também tendem a se depreciar menos.

Foi feita uma comparação usando como exemplo a Fiat Toro, segunda picape mais vendida no Brasil. O modelo Volcano, com motor 2.4 flex, câmbio automático de 9 marchas e tração dianteira, custa R$ 115.690. A mesma versão, com o mesmo acabamento, tração nas quatro rodas, mas com motor turbodiesel, custa R$ 142.990, ou seja, a diferença é de R$ 27.300 a mais para o modelo a diesel.

2 – Autonomia

Carros a diesel de médio porte atualmente produzidos na Europa demonstraram consumir um litro de diesel por 25 a 30 quilômetros. Carros pequenos podem viajar 100 quilômetros com menos de 3 litros de combustível. Um carro com um tanque de 50 litros provavelmente viajará 1.000 quilômetros sem reabastecer.

3 – Carga tributária

A carga tributária para um veículo com motor diesel é maior. O IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) tem alíquota de 13% para carros a gasolina, subindo para 25% para carros com motor turbodiesel, até seis lugares.

4 – Manutenção

Para saber se vale a pena comprar um modelo a diesel, é preciso considerar manutenção, consumo de combustível, outros gastos e quilometragem. Se o proprietário dirige muito em estradas difíceis, principalmente as não pavimentadas, os modelos 4×4 a diesel podem ser uma boa opção. Outro fator é a necessidade de transportar carga além de passageiros e se a intenção é usar o veículo por muitos anos, confiando em sua durabilidade. Nesses casos, a versão a diesel vale a pena e pode ser a melhor escolha.

5 – Legislação brasileira sobre carros a diesel

No Brasil, a lei proíbe a venda de carros de passeio com motores a diesel. Existem pouquíssimos países no mundo com essa restrição. Ela está em vigor desde novembro de 1976, após a primeira crise do petróleo, quando o país teve que importar 78% do combustível que consumia. O Brasil já era totalmente dependente do petróleo para o transporte de cargas e passageiros, depois que as ferrovias deram lugar às rodovias como principal forma de transporte.

Desde então, a lei permite que o diesel seja usado exclusivamente para transporte de cargas e transporte público de passageiros. Os veículos autorizados por lei a usar diesel são ônibus, caminhões e caminhonetes com carga útil acima de 1.000 kg. Também é permitido para veículos utilitários com tração 4×4.

Mais recentemente, o Projeto de Lei 84/2015 tenta modificar essa restrição, permitindo o uso de motores a diesel, como é o caso nos Estados Unidos e na Europa. No entanto, o projeto está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado desde 2017.

6 – Poluente ou não poluente?

A Toyota anunciou em maio de 2018 que deixará de fabricar e vender carros a diesel na Europa e que o combustível será completamente eliminado de seus carros de passeio até 2018.

O motivo desta decisão é o escândalo envolvendo fraudes em emissões de poluentes, causado pela Volkswagen em 2015. As fraudes descobertas aumentaram muito o descrédito quanto à possibilidade de utilizar a tecnologia diesel sem emitir óxido de nitrogênio e outras partículas nocivas.

Durante anos, as montadoras têm pressionado pelo diesel, com o apoio do governo para reduzir suas emissões de CO2. Mas o escândalo da Volkswagen deu um golpe forte nessa tendência. Cidades como Paris já anunciaram planos para proibir o diesel. Na Alemanha, os principais tribunais deram às cidades o sinal verde para proibir carros a diesel mais antigos das ruas.

Além disso, a agência reguladora ambiental dos EUA, EPA, descobriu que a Volkswagen AG instalou controles de emissão fraudulentos em carros a diesel Porsche e Audi de 2014 a 2016 com motores 3.0. A investigação foi então estendida para incluir essas marcas de luxo.