Mudança de hábitos gera crise no mercado automobilístico

Grandes montadoras nacionais e associações ligadas à venda de veículos usados ​​afirmam que houve uma queda enorme nas vendas de carros em 2018. Isso é uma crise no mercado automobilístico?

O mercado automotivo começou 2018 com dados promissores, com crescimento de vendas previsto de 13,2%. No entanto, esse crescimento foi substituído por uma queda nas vendas de carros, e atualmente a expectativa é de melhora de apenas 11,9% no setor.

Essa melhora parece longe de acontecer, visto que a maioria das montadoras nacionais está investindo em férias coletivas e demissões para compensar a redução nas vendas.

Segundo a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a projeção de vendas no início deste ano era de 800 mil unidades, atualmente é de 766 mil unidades.

A queda nas vendas de carros ocorreu tanto no mercado interno quanto nas exportações. Segundo Pablo Di Si, presidente da maior montadora do país, a Volkswagen, situações como a Copa do Mundo, a greve dos caminhoneiros e as eleições presidenciais afetaram significativamente o mercado de automóveis, alimentando essa crise no setor.

Segundo ele, esses fatores também afetaram os números de exportação, ainda que as negociações com países como Colômbia e Chile tenham sido mantidas e, embora reduzidas, com a Argentina a marca sofreu redução de seis mil unidades.

Imagem: Getty

Veículos usados ​​também tiveram queda

No Brasil, a queda na demanda por veículos novos foi acompanhada pela redução na demanda por veículos usados. Veículos com até três anos de uso tiveram queda de quase 50% nas vendas no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Em 2017, foram vendidos cerca de 1,76 milhão de carros usados; no primeiro semestre de 2018, foram vendidas apenas cerca de 888 mil unidades.

Quando falamos de mercados regionais, a coisa parece ainda pior, segundo dados da Assoveba – Associação dos Revendedores Autônomos de Veículos da Bahia, houve queda de 70% nas vendas de carros seminovos e usados ​​no estado nos últimos meses.

O presidente da associação, Paulo Mascarenhas, também acredita que essa grande redução nas vendas se deve à crise financeira do país, e prevê melhoras no setor apenas nos meses de dezembro/2018 e janeiro/2019.

No entanto, essa queda nas vendas de veículos novos e seminovos, por um lado, pode ser muito interessante para o consumidor. Pessoas que estavam querendo comprar um veículo podem aproveitar esse momento de mercado para negociar veículos até R$ 4.000 mais baratos.

Segundo uma concessionária de carros usados ​​de Salvador, um Corsa (Hatch) que custava em média R$ 27 mil está sendo vendido atualmente por R$ 23 mil. E esse cenário de queda nos preços dos veículos tende a se estender para todas as regiões do país. Por isso, se você tem algum dinheiro guardado para comprar um carro, esse pode ser o momento certo.

Razões para o declínio do mercado interno

Segundo Luiz Pimenta, doutor em economia e especialista em mercado automobilístico, se a pessoa quer comprar um veículo e tem condições financeiras, a hora é agora.

O especialista diz que, ao contrário do que muitos 'estudiosos' vêm dizendo, o crédito ainda está disponível no mercado para quem precisa, o que é mais difícil são as exigências para obtê-lo. E esse é um dos motivos da queda nas vendas de carros.

De acordo com autoridades do setor, as instituições financeiras estão aproveitando a crise financeira do país para reprimir clientes mal-intencionados.

Este é um setor que sofre constantemente com inadimplências e problemas relacionados a revisões judiciais de valores. Alguns clientes, antes mesmo de pagar a primeira parcela do financiamento, solicitam uma revisão de valor na justiça para pagar menos.

Outro motivo para a queda do mercado nacional de veículos é o alto preço do combustível, que em muitas cidades está fazendo com que pessoas que possuem veículos desistam de dirigir seus carros.

Segundo o jornal online O Povo, algumas pessoas estão economizando até 76% ao mês trocando o veículo próprio pelo transporte público, usando aplicativos de transporte e até adotando uma bicicleta.

Além do aumento do custo do combustível, outros itens relacionados aos veículos também influenciam na decisão de não comprar um carro. Afinal, um veículo precisa constantemente de manutenção, troca de peças e outros detalhes que consomem dinheiro.

O seguro de carro é uma das razões para a queda nas compras de carros no país. Ter um carro sem seguro é atualmente considerado loucura, e esta é a razão pela qual muitas pessoas desistem de comprar um carro.

O aumento da criminalidade, relacionado às maiores taxas de roubo e furto de veículos, fez com que o custo do seguro de carro aumentasse consideravelmente em 2018.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que houve um roubo ou furto de veículo a cada minuto ao longo de 2017, o que equivale a cerca de 600.000 veículos roubados durante o ano. Esse número fez com que os preços do seguro de automóveis subissem em 2018.

Mercado automotivo global

Aparentemente essa crise no setor não é exclusiva do Brasil, mesmo com a maior parte do mercado automobilístico mundial apresentando expansão nas vendas, alguns países não obtiveram bons percentuais de crescimento neste ano.

O mercado global de veículos é extremamente competitivo. No geral, as vendas globais aumentaram 3,6% no primeiro semestre deste ano. Dentro deste contexto global, o Brasil apresentou crescimento de 14% em comparação a outros países.

Ainda assim, entre os 10 países que mais faturaram, o Brasil ocupa a nona colocação, à frente apenas do Canadá, que não obteve crescimento no setor.

Este ranking foi elaborado pela Jato Dynamics, consultoria internacional que registra vendas em 57 países. Veja os dados na tabela abaixo:

Tabela 1: www.autoindustria.com.br

A Índia, que foi o único país a apresentar crescimento de vendas maior que o Brasil, ficou em quarto lugar entre os polos de consumo automotivo do mundo. Fechou o primeiro semestre de 2018 atrás do Japão, Estados Unidos e China.

Entre os modelos de carros mais vendidos no mundo, o SUV foi o que apresentou maior crescimento neste ano. Somente no primeiro semestre deste ano, foram vendidos 15 milhões de veículos deste modelo no mundo, o que representa uma margem de crescimento de 22% no Brasil.