Por que os preços dos combustíveis pararam o Brasil?

O país, que depende do transporte rodoviário, quase única alternativa para movimentar pessoas e mercadorias, está paralisado com o movimento dos caminhoneiros contra o preço dos combustíveis.

Greve dos caminhoneiros para reduzir o preço do diesel

Os caminhoneiros autônomos iniciaram uma greve por tempo indeterminado nesta segunda-feira, 21 de maio, em todo o país. O movimento é contra os aumentos quase diários do preço do óleo diesel. Os caminhoneiros autônomos são representados pela Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), que reúne cerca de 700 mil profissionais autônomos, mas há outros motoristas autônomos que não são representados pela Abcam.

Os caminhoneiros estão reivindicando que o governo retire os impostos inclusos no preço do diesel, que chegam a 42% do preço final. Com os reajustes diários feitos pela Petrobras nos últimos 12 meses, os preços do diesel subiram 15,9%, o que os levou a atingir o limite de sua capacidade de absorver os aumentos. Portanto, apesar de terem outras reivindicações, a primeira é a redução da carga tributária.

Reclamações de motoristas de caminhão

A nova política de preços da Petrobras, que aplica reajustes com base no preço internacional do barril de petróleo e na alta do dólar, abalou a economia do país e levou caminhoneiros ao desespero. Os aumentos são imprevisíveis, então, quando eles contratam um frete e iniciam uma viagem, não sabem quanto vão gastar de fato até chegarem ao destino. Segundo eles, os custos com combustível chegam a 80% do valor do que recebem do frete.

As reclamações dos caminhoneiros vão além do preço do combustível. O preço de um pneu de caminhão é muito alto e sua durabilidade é inferior a um ano. Se um pneu estourar durante uma viagem, o custo do frete geralmente não cobre a perda. A cobrança de pedágio para eixos suspensos em veículos sem carga em cabines de pedágio federais também é considerada injusta. A jornada de trabalho dos caminhoneiros pode chegar a 12 horas seguidas, o que é exaustivo.

Segundo o diretor da Abcam, José Fonseca Lopes, os profissionais autônomos têm menor poder de barganha na hora de contratar serviços de frete e o impacto do preço dos combustíveis é maior para essa categoria. A situação é inaceitável para eles e para grande parte da população que apoia o movimento.

Consequências

A greve deixou o governo em situação de fragilidade diante das reivindicações de centenas de milhares de caminhoneiros, que conseguiram paralisar o país, causando desabastecimento de combustível nos postos de combustíveis e falta de produtos de consumo nos supermercados, afetando a circulação de ônibus, vans de transporte escolar, Uber, coleta de lixo, táxis, e prejudicando a operação da avicultura, com a morte de milhões de aves, impedindo a distribuição de leite, medicamentos e produtos hospitalares.

Como os motoristas de caminhão se organizam

Os caminhoneiros não se organizam por meio de sindicatos e não têm lideranças definidas. Por isso, é muito difícil para o governo obter um compromisso que seja seguido por toda a categoria, que está espalhada pelo país.

Os caminhoneiros se organizaram rapidamente por meio de suas conversas em vários grupos de WhatsApp, dos quais são membros. Foi assim que trocaram ideias sobre condições de trabalho, informações sobre o estado das estradas e chegaram à decisão de entrar em greve, que inicialmente não envolveu sindicatos, mas só depois o fez. Existem grupos de WhatsApp com centenas de participantes.

Movimento contou com a participação de empresas de transporte

Na semana da greve, as empresas de transporte também aderiram ao movimento dos caminhoneiros, quando o total de caminhões parados ultrapassou 1 milhão. As empresas aderiram porque acreditam que reduzir os preços dos combustíveis também é do seu interesse comercial e também porque não conseguem movimentar seus caminhões. Elas reivindicam a isenção de PIS/Cofins sobre o diesel, que foi aprovada pela Câmara dos Deputados, mas ainda não havia sido publicada no Diário Oficial até o último final de semana de maio.

O que aconteceu com os preços dos combustíveis?

Conforme analisamos em artigo anterior, entre 3 de julho e 28 de dezembro de 2017, os preços da gasolina tiveram 115 reajustes., consequência da nova política de preços da Petrobras, na qual os preços ao consumidor brasileiro seguem a variação do dólar e do preço do petróleo no mercado internacional, que vem crescendo mais do que o esperado. Essa política impactou o preço do diesel, da gasolina e do gás de cozinha.

Segundo dados e análises da Federação Unificada dos Petroleiros (FUP), desde que Pedro Parente assumiu a estatal em 2016, a política tem sido agradar investidores internacionais e facilitar a venda de ativos. Com a mudança na política de preços de combustíveis, Parente também reduziu drasticamente a carga de refino no país, processando apenas 70% de sua capacidade.

A Petrobras continua produzindo muito petróleo, mas em vez de refinar o produto aqui no país, ela optou por exportar o petróleo bruto e depois importar o mesmo petróleo, agora refinado, a um custo muito mais alto. No governo de Michel Temer, as importações aumentaram drasticamente. Nos primeiros dez meses de 2017, as importações de gasolina atingiram 1,5 bilhão de dólares, um crescimento de 93% em relação a 2016. A gasolina e o diesel já respondem por 20% de todos os produtos americanos vendidos ao Brasil em 2017.

O que está acontecendo com a Petrobras?

A estratégia do diretor da Petrobras, Pedro Parente, fez com que a Petrobras perdesse participação no mercado nacional de combustíveis para seus concorrentes internacionais. Como resultado, os consumidores pagam mais pelo combustível, as altas importações prejudicam a balança comercial e as operações de refino são reduzidas, colocando milhares de empregos em risco. E quem perde com tudo isso?

Para atender o mercado, a Petrobras adotou reajustes diários e, desde julho de 2017, foram 230 reajustes de preços, com a gasolina e o diesel subindo mais de 50%, enquanto o gás de cozinha foi reajustado em 60%, impactando as famílias mais pobres, que passaram a pagar R$ 80 pelo botijão de gás, que pode ser vendido por até R$ 115, em Alta Floresta, no Mato Grosso.

Porque a gasolina brasileira é a segundo mais caro do mundo

O alinhamento internacional dos preços da Petrobras ao consumidor faz parte do objetivo da empresa de se privatizar. Assim como já ocorreu com os campos do Pré-Sal, gasodutos e subsidiárias, há a intenção de privatizar as refinarias, os gasodutos e os terminais. Para tanto, está sendo adotada a importação de derivados que são produzidos com o petróleo bruto extraído no país.

Segundo a FUP, em 2013, a Petrobras tinha capacidade para abastecer 90% do mercado nacional de combustíveis, percentual que caiu para 76% em 2017. Refinarias como a Landulpho Alves, na Bahia, operam com menos da metade de sua capacidade de produção. Hoje, os brasileiros estão comprando gasolina e diesel importados, que já representam 24% do mercado nacional. Isso significa que para cada 10 litros de gasolina vendidos no Brasil, 2,5 litros são importados.

Esses dados mostram que a Petrobras, que detinha as maiores reservas de petróleo do mundo, descobertas no século XXI, está sendo reduzida a uma mera exportadora de petróleo. Na exploração dos campos, a maioria dos quais foram leiloados, a participação de empresas privadas estrangeiras é de 33% da produção total.

A Petrobras poderia abastecer o país integralmente com diesel, gasolina e gás de cozinha a preços independentes e abaixo do mercado internacional. Hoje, a participação da Petrobras no Pré-Sal foi reduzida a meros 67%, em uma reserva cujo volume de petróleo extraído cresceu 14,3% somente em 2017. Ou seja, o Pré-Sal tem potencial para lucros fabulosos, que não são mais brasileiros.

Greve dos petroleiros se junta à greve dos caminhoneiros

A Federação Unificada dos Petroleiros convocou uma greve de 72 horas, que começará à meia-noite de quarta-feira, 30 de maio. Ela será realizada em todo o país para protestar contra o aumento dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, a privatização da Petrobras e para exigir a renúncia de seu presidente-executivo, Pedro Parente.

Preços dos combustíveis atualmente pagos pelos consumidores

Na última semana de maio, o preço médio pago pelo litro da gasolina subiu de R$ 4,284 para R$ 4,435 e do diesel foi de R$ 4,3595 para R$ 3,788. Mas o preço chegou a mais de R$ 5 em vários lugares do Brasil.

No Rio de Janeiro, pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostrou que em Botafogo, o preço era de R$ 4,969, em Copacabana, R$ 4,975 e na Lagoa, R$ 4,986.

O preço médio pago pelo litro da gasolina subiu de R$ 4,284 para R$ 4,435 e o preço do diesel saltou de R$ 3,595 para R$ 3,788 na semana. Nas demais regiões do Brasil, os dados revelados pela ANP mostraram que o preço médio pago pelo litro da gasolina subiu de R$ 4,284 para R$ 4,435 (+3,52%), na semana de 21 a 26 de maio. O preço médio do diesel subiu de R$ 3,595 para R$ 3,788 (+5,36%).

Os preços do etanol também subiram, atingindo a média de R$ 2,818 o litro, mas ele chegou a ser vendido por até R$ 4,60 em algumas regiões do país, segundo dados da semana de 19 a 26 de maio.